Luiz Schiavon - Revista BIZZ - (12/85)
O lado tecno do RPM - "Papo de mãe." Assim Luís
Schiavon, o tecladista do RPM, define seu início nos teclados. Aos sete anos de
idade, ele queria mesmo era ter aula de judô, mas a mãe só deixou com uma
condição: ele tinha que aprender piano.
O curso de judô durou duas aulas, mas o de piano, 13 anos.
Dez de curso normal, equivalente ao de músico com formação universitária, e
três de virtuosidade, uma extensão basicamente voltada à análise de peças
eruditas. Luís, porém, não pensava em seguir carreira como músico erudito:
"Gostava de estudar".
Nesta época já tocava com algumas bandas. A primeira foi uma
catástrofe: "Sempre fui solista, nunca tinha tocado com ninguém" .
De repente, ele se viu cercado por uma guitarrista, uma
baixista e uma baterista. "Eu pedia para elas tocarem mais baixo",
lembra. "Mas eu é que estava do lado errado. Sabia a parte técnica e
teórica, mas não tinha nenhuma prática. Tinha a mão um pouco presa, não
conseguia fazer improvisos. Eu compunha na partitura e aí lia o que tinha
escrito."
A banda acabou e Luís resolveu "soltar" a mão.
"Eu gostava de jazz, uma coisa bem centrada no improviso, e decidi sair
por aí." Começou a fazer jam sessions e deu certo.
Eram os anos do auge do progressivo e Luís se apaixonou
pelos teclados de Keith Emerson. "Eu brincava de tocar Yes e Emerson, Lake
and Palmer no piano", lembra. "É engraçado. Tem uma época que você
tem um ídolo, mas depois descobre seu jeito de tocar, seu potencial, e usa esse
cara apenas como influência."
Das brincadeiras de imitar Yes Keith Emerson, Luís caminhou
para a música eletrônica. Chegou formar uma banda de onze sintetizdores com
Lucas Shirahata. Era a Solaris, que se apresentou só uma vez, no programa
Fábrica do Som produzido pela TV Cultura, em 81. "O som era tecno mesmo,
instrmental, tipo Tangerine Dream. Um trabalho de pesquisa de som."
Para entender os sintetizadores Luís passou quase um ano sem
tocar em banda para ficar lendo material estrangeiro sobre sintetizadores.
"É muito complexo. Você Pode ser um ótimo tecladista e um péssimo
programador. Tem que ter um conhecimento de música e de engenharia de
som."
Tanto para programar, quanto para tocar, Luís usa tudo o que
aprendeu até agora. Só que optou por um estilo: "Não gosto de usar
sintetizador para ficar imitando cordas e metais. Faço alguns naipes que
existem normalmente nas músicas, como um quarteto de cordas, mas eu procuro
mesmo é buscar um timbre que nenhum instrumento me daria".
"Aí entra a sensibilidade", continua. "O RPM
é uma banda apoiada harmonicamente no uso dos teclados, mas eu uso os timbres
para realçar os climas das músicas. Os teclados têm uma riqueza sonora muito
grande. Normalmente, o pessoal usa teclado para tapar buraco, um negócio que eu
acho meio ridículo."
Ficha técnica:
Desde que começou a tocar, Luís já teve aproximadamente
vinte teclados, entre pianos, órgãos e sintetizadores. "Tento rodar meus
instrumentos de ano em ano para vender ainda com cara de novo e não perder o
passo tecnológico."
"Os teclados mudam muito", conta. "Por
exemplo: o catálogo da Rolland de março de 84 tinha 10 ou 12 teclados. Hoje, só
um ainda não está fora de linha."
Agora, no show que o RPM vem fazendo pelo Brasil, Luís está
usando um piano Yamaha CB 70,´ um JX-3P da Yamaha (para fazer a parte mais
pesada como os metais e os efeitos), um Yamaha DX-7 (para fazer cordas e tirar
timbres diferentes dos sintetizadores normais), um Juno 106 da Rolland (para
fazer a base, as cordas mais leves, os sopros) e um computador Apple II plus
nacional (para simular condições de estúdio) acoplato a um Interface MPV 401
(que permite ao computador comandar os teclados).
Ele está comprando um Rolland JX-8P (uma evolução do JX-3P)
e uma bateria TR 707 da Rolland (para evitar problemas de sincronismo com o
computador), que serão usados no final da excursão.
No disco, além do JX-3P e do Juno 106, Luís usou um piano
Yamaha CP-80, sintetizadores Kurzweil, um Prophet Five, um Sequencer MC-202 e
ritmos Rolland TR-909 e Linndrum III
Fonte:
Revista BIZZ Ed.005 Dezembro/85