Entrevista a Paulo Ricardo: O rádio ainda é e será fundamental para o grande sucesso por muito tempo



Certamente as bandas são as principais atrações do SuperStar, mas não as únicas. Quem tem se destacado muito é o jurado Paulo Ricardo, que transmite muita cultura musical em seus comentários, de forma segura, sincera e com propriedade. O cara, positivamente, conhece muito de cultura pop. Propriedade adquirida com a vida.

Antes de empunhar seu baixo e soltar a voz e os ombros em uma das maiores bandas da nossa história, ele foi crítico musical e deve ter sido daqueles jovens, adolescentes, que passam tardes sentados escutando seus discos de vinil, lendo atentamente os encartes e formando assim sua personalidade musical.

O cara sabe do que fala. Seu Olhar 43 é muito bem focado também para enxergar a qualidade musical das bandas. Particularmente sempre espero pelo o que o Paulo irá falar. Mais do que esperar, fui querer trocar uma ideia. Mandei para ele algumas perguntas e rapidamente vieram as respostas. Depois farei o mesmo com Thiaguinho e Sandy. Uma forma de conhecer um pouco mais sobre o que rola nas cabeças dos técnicos. Com vocês: Paulo Ricardo!


1 - Qual foi seu primeiro sentimento quando foi convidado para ser técnico do SuperStar? Bateu algum incômodo por ter que julgar artistas? E agora com o programa no ar, está gostando da sua função?
Os realities de música são um fenômeno no mundo inteiro e, assim como somos todos técnicos da seleção brasileira, temos todos fortes convicções sobre quem deveria vencer essas competições. Como trabalhei como crítico de rock por quatro anos antes do RPM, recebi o convite do Boninho com muita tranquilidade. Acho o termo "julgar" um pouco pesado. Estamos ali pra avaliar e ajudar as bandas a melhorar. Estou adorando.


2 - Você já foi crítico musical, tem uma carreira pra lá de bem-sucedida e uma vasta cultura musical. O que você espera de um artista? O que te arrebata?

Não é uma coisa ou outra. É o conjunto da obra. Sabe-se que apenas 30% de nossa comunicação é verbal. O resto é linguagem corporal, carisma, sex appeal, etc. Música autoral pode ajudar ou não. Originalidade é fundamental, mas não há regras. Cada caso é um caso. Tanto pode ser a simpatia dos Dois Africanos quanto a atitude indie da Scalene.


3 - Uma discussão frequente entre quem comenta o SuperStar é sobre a questão música autoral X versão. O que você tem a dizer sobre isto? O que fez você, com o RPM, gravar “Flores Astrais” (Secos e Molhados) e “London, London” (Caetano)?

O show business poderia se chamar song business. Tudo gira em torno da grande canção. É sempre uma sensação muito boa ouvir uma nova grande canção. Se o intérprete também compõe, é ótimo. Mas este é um conceito que vem dos anos 60 pra cá, o do “cantautor”. Antigamente os compositores compunham e os cantores cantavam. Um artista não precisa compor para ser umSuperStar. Vou te dar alguns exemplos de megastars que nunca compuseram nada: Frank Sinatra, Elvis Presley, João Gilberto, Maria Bethânia. Sacou? A coisa não é tão cartesiana quanto parece. Tanto que, até hoje, tem muita gente que jura que "Flores Astrais" e " London, London" são do RPM. Às vezes, ter um estilo próprio é mais importante do que compor. Se já existe uma canção que diz o que você quer dizer, por que não cantá-la em vez de tentar escrever uma versão medíocre da mesma coisa?


4 - Outra discussão frequente é sobre a “morte do rock”. O rock é "morrível"?

Pedras não morrem (risos), mas criam limo. O rock não é "morrível", mas pode ser horrível. E não só isso. Pretensioso, equivocado, um copy/paste. E o pior, irrelevante. O rock tem que ter sangue, suor e lágrimas. Tem que ter urgência, verdade, atitude. O rock não pode ser um produtinho bem embalado. Isso é ainda pior que a morte. O rock não é um fenômeno isolado, ele é parte de um contexto. E fico feliz por participar de um programa que está ajudando a criar esse contexto.


5 - A televisão brasileira tem uma relevante relação com a música. Tivemos os grandes Festivais da Canção, programas de auditório como Chacrinha, programas de paradas de sucesso como Globo de Ouro, as trilhas das novelas, entre outros formatos. Você acha que o SuperStar pode ser mais um capítulo nesta história? O que o Programa traz de novo ou relevante?

A Rede Globo é o maior canhão de mídia deste país. Ela não pode, sozinha, criar um novo movimento musical, mas pode sim repercutir, e muito, algo consistente que batalhava no underground. O rádio é um meio extremamente fechado (salvo raras exceções) e não está ali para dar espaço ao novo, a não ser que já esteja consagrado. Falo isso com a experiência de trinta anos de carreira. Só a Globo pode virar esse jogo. Programas como este são vitais, fundamentais para a música popular brasileira. Já tinha essa impressão, agora, lá dentro, vendo o amor e a seriedade com que as coisas são feitas, posso afirmar. Palavra de jurado!


6 - O mercado da música vem passando por grande transformação. Hoje, parece não ser mais tão fundamental para um artista fazer sucesso ter que estar em uma gravadora, nem tocar em rádio. Hoje é mais fácil ou mais difícil para um artista se estabelecer? Se estivesse começando sua carreira agora, quais passos você priorizaria?

Discordo da sua premissa. O rádio ainda é e será fundamental para o grande sucesso por muito tempo. A Internet é um espaço incrível pra você se lançar, mas sucesso, sucesso mesmo, acredite, só estourando no rádio. Hoje é mais fácil aparecer, mas mais difícil ainda permanecer. Se eu estivesse começando, faria de tudo para estar no SuperStar. Sempre pensei grande. Até porque, no Brasil, simplesmente não existe uma cena indie. Indigente, eu diria (risos).