Retrospectiva 86 Revista BIZZ
OS ASTROS DO ANO
O ano já acabou? Pois é, a corrida frenética da folhinha foi
tanta que os doze meses de 1986 fugiram tão rápido quanto pintaram. E a
atividade no rock, em vídeo, no cinema e no comportamento acompanhou o beat
acelerado da valsa dos dias.
BIZZ registrou, tintim por tintim, todos os principais fatos
de um ano especialmente atribulado e bem sucedido - afinal, em 86 a indústria
fonográfica cresceu cerca de 40% e a demanda por música escalou picos inéditos.
Mas será que você se lembra, mesmo, de tudo de importante que aconteceu neste
ano? Pra refrescar a memória...
RPM - O estouro do ano
Nenhum outro grupo de rock brasileiro conseguiu, sozinho,
lotar a imensa Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro. Nenhum outro grupo de rock
brasileiro conseguiu atingir o milhão de discos vendidos. Nenhum outro grupo de
rock brasileiro conseguiu levar para os shows de uma excursão três milhões de
pessoas. Nenhum outro grupo de rock brasileiro conseguiu lançar um segundo
álbum praticamente gêmeo do prodecessor e ultrapassar as vendagens do primeiro.
A lista - enfadonha, até, na sua magnitude - poderia se extender. Mas se todo
mundo já sabe a resposta - e mais alguns índices indicadores de sucesso - para
que, então, fazer suspense antes de dizer que nenhum outro grupo de rock
brasileiro conseguiu tudo isto, exceto o RPM?
As fãs em ponto de ebulição, os quaquilhões de artigos
escritos, os zilhões de capas de revistas, os ombros de Paulo Ricardo,
"London London" seduzindo Caetano Veloso, o show espetacular montado
por Ney Matogrosso, a super-infra do grupo, toda esta procissão de tentos já
foi tão mastigada pelo insaciável mass media que por pouco não ficou oculto o
maior trunfo do RPM.
Quando saiu Revoluções por Minuto a crítica desmilinguiu-se em elogios à inteligência poética e à argúcia sonoro. Pois é: foi esta sacação que conquistou o país, também. Este foi o estopim do estouro de 86.
O show
Quem estava acostumado às noitadas que o RPM promovia no
Madame Satã e na danceteria Pool levou um sustaço quando o grupo pisou no
Teatro Bandeirantes, no inverno de 1985, para estrear o show que Ney Matogrosso
arquitetara - raio laser, trocas de roupa, gelo seco. Era um show de gente
grande. E de verde almejante ao estrelato, com o show o RPM virou superestrela,
aprimorando jogadas cênicas, drama, sensualidade, sedução. Quem viu os shows do
RPM em 86 enxergou neles o brilho das estrelas.
O futuro
E daqui para a frente, após quase dois milhões de discos
vendidos e uma exposição maciça bem próxima da saturação? O que fará o RPM?
Ney Matogrosso sugere que eles desapareçam - para evitar um
provável fastio do público. E é, mais ou menos, o que a banda fará.
Em março o RPM dará uma parada para pensar, compor e
arranjar o material do próximo disco. Quase ao mesmo tempo a CBS e o RPM
começarão a planejar uma investida no exterior, com o lançamento de um LP em
inglês nos Estados Unidos e na Inglaterra já dentro dos planos.
Cogita-se o início de uma nova excursão em meados de 87,
quando o terceiro álbum do RPM já estiver nas ruas. Cogita-se a filmagem do
show de 86, em dezembro, para um vídeo de longa metragem, a ser dirigido por
Bruno Barreto, o mesmo que fez A Dama do Lotação.
Mas de real, mesmo, só existe o descanso para compor em
março. O resto, pode se dizer, são especulações por minuto.
O mito
Não é exagero algum dizer que Paulo Ricardo é a estrela do
RPM. Tampouco seria hipérbole nomeá-lo o ídolo de 86. Suas feições gregas, seus
ombros famosos, sua voz rouca e assertiva, seu muchocho sexy, tudo contribuiu
para que ele se transformasse num popstar como o Brasil não conhecia desde que
Roberto Carlos usava calças Calhambeque.
Ele se tornou aquele barato que as pessoas costumam chamar
mito: um personagem maior que a própria vida, um sonho de carne, osso, vinil,
papel e videoteipe que embala uma nação de garotos e garotas com promessas
molhadas e canções pop. Como mito, não pertence mais a si próprio. E não é
pessoa: é fenômeno.