"Me vi embarreirado pelo pessoal do pop rock, um pouco porque consideraram que fui eu, com meu ego imenso, que terminei com o RPM"
Romântico/Brega
Essa fase veio quando me vi embarreirado pelo pessoal do pop rock, um pouco porque consideraram que fui eu, com meu ego imenso, que terminei com o RPM, o que não foi verdade. Sei que vou sofrer sempre esse negócio de fãs do RPM que se sentiram traídos pelo vocalista megalômano que abandonou a banda egoisticamente para se dedicar à carreira solo.Estava um clima muito hostil para mim nas rádios pop rock. Aí encontrei o [compositor de hits populares] Michael Sullivan, a gente compôs uma música, "Dois", que ficou quatro meses no primeiro lugar das paradas. O CD ficou quatro meses no topo dos mais vendidos, vendeu meio milhão de cópias. Fizemos em espanhol para 36 países. O rock estava numa fase pesada, as bandas brasileiras cantando em inglês. Falei: "Quer saber, esse negócio de rock é um rótulo muito pequeno. Sou brasileiro, quero experimentar, gravar outras coisas".
A traição ao rock
Minha relação com a imprensa teve um percurso bem típico. Quando a gente era uma banda underground, tocando nos porões, "uau", eram só reportagens maravilhosas. Lançamos o primeiro disco, e as críticas "uau". Chegou "Rádio Pirata ao Vivo", a gente bateu um milhão de cópias e "pau", foi sarrafo para sempre. Fiz novela, sarrafo, o RPM voltou, sarrafo, cortei o cabelo, sarrafo, casei, descasei, sarrafo. Mas, depois da superexposição do RPM e de gravar com o [produtor e compositor de hits populares] Michael Sullivan, o que foi considerado uma traição ao rock, hoje tenho um bom relacionamento com a imprensa. E, graças a Deus, no começo da carreira, li uma entrevista com o Mick Jagger que dizia: "Contanto que a minha foto esteja na capa, não tô nem aí com o que vão falar na página 96".O Personagem
Eu curti aquele personagem que inventei, o cantor das multidões. Usava paletó, gravata, cabelo curto, cada aberração, até casaco de zebra! Em 97, saiu o CD "O Amor me Escolheu", que estourou. Em 98, 99, gravei músicas do Roberto Carlos. Meu primo estava num táxi, no rádio tocava "Dois", e ele disse: "É meu primo, o Paulo Ricardo do RPM". E o taxista: "Não, esse é outro, é o Paulo Ricardo Dois". Ele tinha razão, era outro cara. O público tinha me recebido de braços abertos e eu me contagiei pelo sucesso.Dois Brasis
Fui muito bem recebido por um segmento que não costumava freqüentar, como rádios sertanejas. São dois brasis completamente diferentes que não se bicam. Muita gente ali nem sabia que eu era do RPM e muita gente do mundinho aqui nem soube o que eu fiz ali. Estava me separando de um casamento de anos com a Luciana Vendramini, estava sofrendo, não estava pensando na revolução. Olhando para aquilo hoje eu abomino. Mas na época eu estava dentro e era natural.Volta ao Pop Rock
Pensei: "I wanna go home" [quero voltar para casa]. Mas me responderam: "Não, agora você foi para o Afeganistão, não volta mais para os EUA". Insisto: "Pelo amor de Deus, cara, deixa eu entrar!". Digamos que agora estou na sala de espera.Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u69646.shtml