Paulo Ricardo fala em 'crise do rock' ao comentar ascensão de funk e sertanejo

Baixo e voz do RPM comenta declaração de Caetano Veloso sobre os dois ritmos e admite: 'Onde as coisas estão acontecendo? É no funk, nitidamente'


Paulo Ricardo é rock'n'roll, mas não apenas. O vocalista do RPM admite um esgotamento no seu ritmo de formação e avalia o crescimento do funk e do sertanejo no Brasil. Para Paulo Ricardo, a declaração polêmica de Caetano Veloso de que "funk carioca e sertanejo universitário são a nova Tropicália" faz sentido. E se o roqueiro ainda sente falta de um "caminhar contra o vento" nos estilos do momento, ele reconhece que sobra fôlego nas batidas e sanfonas, e falta no velho rock'n'roll.

"No caso do rock, está havendo uma certa crise sim. E não é só nacional, é mundial. As bandas que fazem sucesso são as mesmas que já faziam há muito tempo. Você não vê o surgimento de novas grandes bandas com grande força", comenta Paulo Ricardo, que vê, na cena, uma volta a referências sessentistas: "O rock voltou um pouco para trás, está trabalhando com seus elementos clássicos. E, hoje, temos as bandas indies, tipo a internacionalTame Impala e a Boogarins, aqui do Brasil, que canta em português, mas tem essa coisa de Mutantes. Elas têm uma sonoridade diferente, meio mágica, com muito efeito na voz"

Paulo Ricardo reconhece um ponto de interseção do funk e do sertanejo com a Tropicália. Assim como a turma de Caetano Veloso e companhia, os dois movimentos se aproveitam de um caldeirão de influências para falar do dia a dia dos brasileiros, mas não chegaram no pódio da Tropicália - pelo menos por ora.

"A gente tem que ter, trabalhando com cultura no Brasil, essa visão ampla e generosa. Não pode ser excludente, não pode ser preconceituoso", pontua o roqueiro, que ressalva: "Havia um componente na inteligência e na poesia do Caetano (Veloso) e do (Gilberto) Gil na Tropicália que a gente não vê ainda no funk. Acho que existem questões sociais que são intrínsecas de quem está vivendo".

Tanto no funk quanto no sertanejo, Paulo Ricardo enxerga uma aproximação com o universo pop e aponta peculiaridades. Se o "batidão" carioca surge como produto de ascensão social, no sertanejo mora um lado festeiro, intrínseco ao DNA tupiniquim. "Existe uma percepção do sertanejo nesse sentido dionisíaco do brasileiro, da festa, da liberdade, de beber e beijar na boca, que já esteve mais no axé. E o funk vem com um retrato das mudanças das classes C e D dos últimos anos", opina.Desde que começou na estrada, nos anos 80, o líder da lendária RPM percebia esse mérito do sertanejo em traduzir influências, mas foi no funk que o roqueiro se jogou - ainda que de leve - ao se apresentar ao vivo no SuperStar com Anitta. "Onde está a ação hoje? Onde as coisas estão acontecendo? É no funk, nitidamente. E o sertanejo há muito tempo fez essa síntese. Lembro que, logo na sequência da turnê Rádio Pirata da RPM, todas as grandes bandas de música sertaneja estavam usando os mesmos elementos, seja no mullet ou no raio laser. Eles são muito rápidos e muito profissionais", explica.