Paulo Ricardo "Como empresários somos uma boa banda de rock."
Com milhões de cruzados, a moeda do Brasil na época, nas contas bancárias, a turma do RPM começou a viajar nas ideias e resolveu entrar para o mundo dos negócios.Um dos empreendimentos feito pela banda paulistana foi a criação de uma gravadora, a RPM Discos. Este seria um selo pelo qual o grupo lançaria seus próximos trabalhos e também serviria para gravar outras bandas e artistas. A RPM Discos, nasceu para ser um selo independente que teria como um dos seus pilares a qualidade dos trabalhos que seriam lançados e que conseguisse lançar bandas e trabalhos alternativos.
"Queríamos fazer discos de trabalhos menos comercíais", recorda Paulo Ricardo. Mas a falta de experiência com a administração de um selo e problemas externos fizeram com que o empreendimento lançasse apenas um disco.
O primeiro e único trabalho lançado pela gravadora foi do grupo paulistano Cabine C, de Ciro Pessoa, ex-integrante da formação inicial dos Titas. As gravações ocorreram entre dezembro de 1986 e fevereiro de 1987. Todos os custos dessa produção foram bancados pela RPM Discos, e a produção ficou a cargo de Luiz Schiavon.
O Cabine C, gravou assim seu álbum de estreia, Fósforos de Oxford, muito influenciado pelo rock europeu.
Gravado nos Estúdios Transamérica, em SP, o disco produzido por Luiz Schiavon (tecladista do RPM) foi lançado em 1987.
O LP chegou às lojas em julho de 1987, prensado e distribuído pela RCA.
O nome do disco era Fósforos de Oxford. As músicas que compunham o LP eram: "Pânico e solidão", "Lapso de tempo", "Anos", "Jardim das gueixas", "A queda do solar de Usher", "Lágrimas", "Opus 2", "Tão perto", "Soldadas", "Neste deserto" e "Fósforos de Oxford".
Das onze composições, sete eram assinadas exclusivamente por Ciro Pessoa, as demais com Anna Ruth e Wania Forghieri. "O problema com a distribuição foi em função da falência da empresa", lembra Ciro Pessoa.
Por sua vez, a RPM Discos passava por problemas de administração e apontava para o fim inevitável. "Como empresários somos uma boa banda de rock. Se tivéssemos um Brian Epstein já seria difícil, pois nem a Apple, dos Beatles, deu certo", compara Paulo Ricardo.
O Cabine C, recebeu uma proposta de contrato da WEA e solicitou uma carta de liberação por parte da RPM Discos. De acordo com Ciro Pessoa, quem os levou para a WEA foi o Branco Mello.
O grande problema é que não foi feito nenhum contrato por escrito entre a RPM Discos e o Cabine C. "As coisas começaram a fugir do nosso controle, decisões tomadas sem a nossa aprovação, questões misteriosas de grana e toda a sorte de problemas que poderiam e levaram a casa pelos ares", afirma Paulo Ricardo.
De acordo com contabilizações da época, o disco vendeu cerca de 8 mil cópias apenas durante os meses de julho e setembro de 1987.
Os processos de ambas as partes não evoluiram, e ninguém quis prosseguir com as acusações.
Foi o primeiro e único lançamento da RPM Discos, que, após muitas dificuldades, teve suas operações encerradas. "Eles colocaram muito dinheiro na gravadora e perderam muita coisa", relembra Maluly: No final de 1986, Luiz Schiavon comprou uma ilha de gravação avaliada em 120 mil dólares.
Os problemas eram muitos na empresa do RPM. "Nós enxergamos a mecânica, mas não como ela funcionaria na prática", relembra Luiz. "Eu morava no Rio e respondia pela direção artística do projeto da RPM Discos.
O Luiz cuidava dos negócios aqui em São Paulo. Tudo fugiu do nosso controle. A euforia do cruzado para acabar- havia acabado, já era o cruzado novo.
Então, vim a São Paulo e pedi ao Luiz para acabarmos com aquilo tudo. Eu e o Luiz não tivemos força nem bom senso para segurar essa situação toda, foi o fim", resume Paulo Ricardo.
Sem nenhum investimento em divulgação, com uma péssima distribuição feita pela gravadora RCA e um cenário decadente para o rock brasileiro, Fósforos de Oxford foi um retumbante fracasso de vendas apesar de ser um bom disco, inclusive bem elogiado pela imprensa da época.