Com a morte de Luiz Schiavon e sem Paulo Ricardo, é hora de acabar para sempre com o RPM

Mas existe nessa história ainda o “fator Fernando Deluqui”: o guitarrista, que não é um membro fundador.


O anúncio da morte de Luiz Schiavon, nesta quinta-feira (15), fez muita gente descobrir meio no susto que o RPM continua em atividade, fazendo alguns shows e lançando músicas novas de tempos em tempos. Sim, aquela que foi a maior banda de rock do Brasil nos anos 1980 segue por aí, aos trancos e barrancos, tentando sobreviver artisticamente.

Só que isso não pode mais acontecer após a morte do tecladista e membro fundador do grupo. Não faz mais sentido nenhum manter o RPM — que conta agora apenas com o guitarrista original na formação, Fernando Deluqui — perambulando por aí como um zumbi de Walking Dead.

Deluqui, Schiavon e o baterista Paulo Pagni decidiram seguir com o grupo quando Paulo Ricardo, em 2016, saiu novamente em carreira solo sem dar muitas explicações a seus colegas. E isso se tornou um grande problema para o trio remanescente, tudo porque os integrantes — inclusive Paulo — haviam feito um contrato dizendo que o RPM só poderia existir como banda com a presença dos quatro músicos originais. Ou seja, o grupo não poderia seguir sua trajetória caso um dos integrantes decidisse sair. Assim, com Paulo fora, os outros músicos se viram impedidos de continuar como grupo.

Como é que ficou, então? Deluqui, Luiz e P.A. entraram na Justiça, afirmando que Paulo não estava permitindo a eles que trabalhassem. Advogado daqui, advogado dali, eis que os três músicos conseguiram manter o nome da banda e deram andamento à carreira do grupo.
Isso tudo aí aconteceu por volta de 2016/2017 e, em 2018, houve a entrada de Dioy Pallone no baixo e no vocal do RPM. Junto disso, veio uma outra mudança no funcionamento do grupo: Deluqui passou a cantar, algo que sempre quis, mas nunca havia feito anteriormente no RPM. Assim, o quarteto tinha agora dois vocalistas se revezando nas canções. Em 2019, o baterista P.A. morreu em decorrência de problemas respiratórios, e um novo músico foi adicionado. Assim, a banda ficou apenas com dois integrantes originais, mas ainda assim era possível ir em frente usando o nome do grupo, até porque Schiavon era um membro-fundador do RPM.

NOVOS RUMOS

Banda vem fazendo já há tempos apresentações com apenas um de seus integrantes originais

Rompimento entre integrantes de bandas de rock é algo corriqueiro e que já aconteceu várias vezes, tanto no Brasil como internacionalmente. Os grupos seguem adiante, mesmo após a perda de um membro fundamental. Às vezes, isso dá certo. Às vezes, não. Rolou bem com o Barão Vermelho, por exemplo, quando Frejat assumiu os vocais no lugar de Cazuza. Com o RPM, a coisa foi meio diferente.

Paulo Ricardo, sem dúvida era o mais famoso integrante do grupo, além de ser compositor e letrista das músicas. Não dá para dizer que sua ausência não seria notada. Mas tudo bem: Schiavon também era compositor do RPM e tinha uma importância dentro da banda tão grande quanto a de Paulo. Seus teclados sempre foram marcas registradas do grupo, assim como eram a imagem e a voz de Paulo.

Mas existe nessa história ainda o “fator Fernando Deluqui”: o guitarrista, que não é um membro fundador — entrou na banda ainda antes do lançamento do primeiro disco, já com todas as músicas compostas por Paulo e Luiz — é sem dúvida quem colocou mais lenha na fogueira para manter o RPM vivo. Ele sempre se considerou meio escanteado dentro do quarteto, que privilegiava os teclados de Schiavon e a voz de Paulo Ricardo, o que deixava pouco espaço para sua guitarra aparecer. Com a saída de Paulo, Deluqui pulou para a frente na hierarquia do quarteto, passando a dar as cartas junto de Luiz. O guitarrista também começou a compor para o grupo, inclusive, escrevendo as letras das novas canções.

O problema todo é que esta versão reformada do RPM não colou. As músicas novas, que estarão num álbum que deve sair por volta de setembro, vêm sendo lançadas a conta gotas já há alguns anos e não empolgam. As letras de Fernando não convencem, e Pallone força uma rouquidão na voz tentando emular Paulo. O teclado de Luiz, por outro lado, continua firme e forte nas canções, ainda que cedendo algum espaço para a guitarra de seu colega.
Mas a coisa piora para este RPM do século 21: com problemas de saúde, Luiz teve de se afastar da banda, que vinha fazendo shows já há algum tempo sem sua presença. Assim, o RPM se apresentava na maioria das vezes, desde a volta da pandemia, apenas com um único integrante original, Fernando Deluqui, no caso. E que, no fim das contas, nem é um membro fundador. Com um tecladista contratado para substituir Schiavon, o grupo praticamente se transformou num cover daquela banda de sucesso dos anos 80.

Dá até para discutir se não é uma propaganda enganosa ir a um show deste RPM que, de fato, tem pouquíssimos elementos originais.

Agora, com a morte de Luiz, o certo mesmo seria encerrar de vez as atividades deste RPM. Se havia algum sentido em manter a banda viva com a presença de Schiavon, isso se perdeu completamente neste momento. Deluqui sozinho não tem como levar adiante a bandeira da banda. Simplesmente não é o suficiente.

O guitarrista tem, sim, de lançar de vez este álbum prometido há anos, e que, afinal, conta com Schiavon, e colocar um ponto final à trajetória do grupo. É muito mais digno, além de ser uma homenagem às memórias de Luiz e também do baterista P.A. 

Manter um nome como o do RPM se arrastando por aí com shows sofríveis não é uma coisa muito legal de ver acontecer.

Fernando, deixe esta pérola dos anos 80 que foi o RPM descansar e ser lembrado por seu importante legado para o rock brasileiro. Vai ser bem melhor, pode ter certeza.