O RPM tinha tudo para ser um sucesso muito maior que a Legião Urbana. Tinha letras melhores, instrumental muito melhor e partiu de uma base muito sólida.
Autor: Jose Geraldo Gouvea
Não há faixas ruins nesse disco, a não ser, talvez, a última, que dá nome à obra.Diferente de outras bandas da época, que seguiam estilos já antiquados, o RPM estava super antenado com a última moda no pop internacional, o Synth-Pop. O som do RPM era do mesmo estilo de bandas europeias contemporâneas suas como A-HA, The Bolshoi, The Human League, Berlin, Propaganda, New Order, Orchestral Manoeuvers in the Dark, Echo and the Bunnymen etc. Isso quer dizer que musicalmente falando o RPM tinha potencial até para carreira internacional.
Enquanto o RPM dialogava diretamente com a música pop contemporânea (inclusive com uma formação semelhante à do OMD e do A-Ha) o resto do rock brasileiro estava copiando estilos de décadas anteriores ou que tinham acabado de sair de moda. Legião Urbana, Ira e Capital Inicial eram pós-punk, sendo que o Ira também tinha influências "mod" e "rockabilly". Celso Blues Boy basicamente fazia blues-rock. Rádio Táxi e Herva Doce faziam rock italiano. Plebe Rude e Detrito Federal ainda estavam na fase Punk.
As únicas bandas nacionais que tinham o mesmo frescor eram o Hanoi Hanoi, com seu funk-rock, e o Fausto Fawcett, com seu rock carregado de hip-hop e influências cyberpunk.
Mas o RPM tinha um sério problema: egos.
Aliás, eram dois problemas, os egos de Luiz Schiavon, que fazia todas as melodias e produzia o disco, e de Paulo Ricardo, que escrevia as letras e era a face pública da banda, inspirando paixões adolescentes em milhões de meninas.
Isso gerou ciúmes internos e a banda acabou brigando e se separando logo depois do massivo sucesso do "Rádio Pirata ao Vivo". Mas a gravadora os trouxe de volta com muitas promessas e a banda se reuniu para gravar outro disco.
Foi por influência de Schiavon, para contrabalançar a influência de Paulo Ricardo, que a banda ganhara um baterista fixo (Paulo Pagni). Mas as ideias de Schiavon levaram a banda a mudar a fórmula de sucesso e o público não gostou.
"Quatro Coiotes", de 1988, vendeu "só" 250 mil cópias (contra quatro milhões do "Rádio Pirata ao Vivo" e quase um milhão do "Revoluções por Minuto"). A banda também mudou de estilo, adotando um visual mais "roqueiro" e largando os terninhos coloridos (que mais tarde talvez inspiraram o Restart).
A diminuição das vendas fez a gravadora apostar mais nas ideias de Paulo Ricardo e o Luiz Schiavon acabou saindo da banda. Vinte anos depois ele se aposentou melancolicamente como animador de auditório no "Domingão do Faustão".
A banda se separou e os membros entraram na justiça disputando o nome, o que impediu a gravadora de promover o disco. A nova separação, seguida do fracasso do disco, foi um problema, mas o problema maior começou em 1990…
Em 1989 o grupo "Kaoma" lançou "Lambada", que se tornou um hit no mundo inteiro. Possivelmente o primeiro hit global desde 1965 que não foi um lançamento de rock. Esse disco marca o começo da morte do rock. Quando ele chegou ao Brasil, no final de 1989, o país já estava meio saturado da moda do rock, que durava desde 1983, e a novidade encheu as rádios rapidamente, trazendo um monte de gente de carona no novo ritmo. Novos artistas, como Beto Barbosa, e cantores pop esquecidos, que experimentaram novo sucesso (Gretchen e Sidnei Magal). A partir de 1989 o rock deixa de ser a única música pop de sucesso entre os jovens de classe média (entre os jovens de classe C, D e E a competição com o funk já existia há pelo cinco dez anos). Logo ele deixa de ser a música pop de maior sucesso. No começo dos anos 1990 o rock se torna no Brasil uma música de nicho.
A partir de 1991 todas as bandas do rock nacional começam a entrar em crise. Seja por motivos internos ou externos. Renato Russo fica doente e morre. Dinho Ouro Preto sai do Capital Inicial. Humberto Gessinger desmancha a primeira formação dos Engenheiros do Hawaii. O Hanoi Hanoi acaba. Plebe Rude se separa. Roupa Nova passa a fazer música de tiozão romântico. Kid Abelha, que já era uma espécie de carreira solo da Paula Toller desde a saída do Leoni, entra em hiato. Os Heróis da Resistência param de resistir. Arnaldo sai dos Titãs. Inúmeras bandas menores acabam. Algumas tendo lançado só um disco.
O RPM estava fora de um mercado que encolhia e voltar não era fácil.
A MTV deu um gás no rock nacional, mas ela também trouxe bandas de fora, que pouca gente ouvia. De repente o fã de rock começou a dividir sua atenção com bandas que faziam pouco sucesso por aqui antes: Metallica, Van Halen, ZZ Top, Megadeth,… Bandas que os membros de banda ouviam, mas que o público final pouco conhecida. Assim, embora a MTV tenha revigorado o interesse pelo rock, ela diminuiu um pouco o espaço para o rock NACIONAL.
Em 1993 o RPM tentou voltar, com um disco muito bom, mas que não parecia continuar o que tinha feito antes. A nova banda era mais um projeto de Paulo Ricardo e Fernando Deluqui que não emplacou. Paulo Ricardo saiu em carreira solo, tentando suceder Roberto Carlos como cantor romântico, e acabou sumindo da mídia.
As rádios começaram a abandonar o rock por volta de 1993. A morte de Kurt Cobain criou uma sensação de fim de festa que foi contaminando todo mundo. Com o fim do Pink Floyd, em 1995, começou a ficar evidente que uma fase estava realmente se acabando, com muitas bandas clássicas se aposentando. A partir dos anos 2000 já não havia mais espaço para novos grupos de rock no cenário pop, e o RPM não tinha tantos seguidores para merecer um revival. Em grande parte por culpa de Paulo Ricardo, que diluiu o legado da banda com discos sofríveis, trilha sonora do BBB e uma carreira solo ridícula…