RPM Quatro Coiotes. O álbum que marcou o fim do RPM.

A verdadeira história do disco RPM Quatro Coiotes, álbum que marcou o fim da banda de rock nacional de maior sucesso dos anos 80.


Após o sucesso inédito do álbum Rádio Pirata ao vivo em 1986, que gerou uma revolução no rock nacional, sendo até hoje o álbum de rock mais vendido da história do país com mais de 5 milhões de cópias, a banda teria que preparar um novo trabalho.

O que era uma banda de rock com letras politizadas, com letras difíceis, em alguns casos sem refrão, em outras com um estilo mais denso ou sombrio, de um momento para o outro se transformaram nos Menudos Brasileiros. O menudo foi uma banda adolescente de grande sucesso em toda a América Latina na década de 80.

Isso foi por causa da histeria gerada em 1986, pelo grande sucesso da banda. Querer se livrar dessa imagem foi um dos muitos motivos pelos quais a banda passou por uma mudança radical no som e na postura.

Veja a história no video a seguir 

Todo o sucesso gerado em 1986 mudou em 1987, quando o cenário musical do país começou a dar as costas à banda, uma rejeição ao RPM foi gerada por críticos musicais e também por parte do público.

1987 foi um ano onde a banda inicialmente faria uma pausa, mas embarcou em muitos projetos ao mesmo tempo, o lançamento de um filme, a gravadora RPM discos, um trabalho com Milton Nascimento e no meio de tudo isso, eles se separaram devido a problemas internos.

Conforme contado no livro Revelações por Minuto, os integrantes da banda passaram a compor separadamente, Paulo Ricardo e Luiz Schiavon continuaram juntos, enquanto Paulo Pagni e o guitarrista Fernando Delúqui passaram a trabalhar em um novo projeto.

Depois de algumas semanas trabalhando juntos, Delúqui e Pagni mostraram suas demos a Claudio Condé, então presidente da gravadora CBS.

Uma semana depois, Cláudio Condé entrou em contato com Deluqui e disse que o material apresentado era bom, mas deixou claro que seria bem melhor se fosse junto com o RPM;

A partir daí, a gravadora CBS passou a pressionar a banda para uma volta; não houve interesse em administrar quatro carreiras de artistas do mesmo grupo. Temos que lembrar que em 1984 a CBS ofereceu à banda um contrato para gravar 3 discos, então eles fariam todo o esforço para que o contrato fosse cumprido, pois ainda faltava mais um disco.

Um dos projetos que ficou pelo caminho em 1987 foi o filme do RPM, onde a banda começou a trabalhar em algumas músicas, mas também não houve acordo se a banda deveria produzir músicas para o filme ou para um novo álbum.

Um dos primeiros a se aproximar foi o produtor da banda, Luiz Carlos Maluly, que teve papel importante nessa aproximação.

Maluly não se conformava com o fim do grupo, acreditava que eles poderiam deixar as diferenças de lado e voltar a trabalhar juntos. Marcaram um encontro na casa de Luiz Schiavon. "Chegamos lá, e o Paulo mostrou umas letras, o Luiz tinha umas músicas e as coisas começaram, devagar, a se encaixar novamente", relembra Maluly.

A separação da banda em 1987 ocorreu por cansaço natural após quase um ano e meio de turnê pelo país, não houve problema grave o suficiente para encerrar definitivamente a banda, então as negociações para um retorno foram satisfatórias.

Agora a banda tinha que trabalhar nas novas composições, onde diferentemente dos primeiros discos, não seria mais um trabalho da dupla Paulo Ricardo e Luiz Schiavon, já que todos teriam participação.

Com a volta confirmada e um novo disco por gravar, foi convocado Luiz Carlos Maluly para a produção do novo LP. Maluly foi escolha de consenso. A banda precisava disso, o relacionamento dos integrantes estava muito difícil.

O início das gravações foi no final de outubro de 1987, no estúdio Sigla, em São Paulo. Foram utilizadas algumas das composições que estavam sendo desenvolvidas para o filme do RPM. Mas as coisas voltaram a não funcionar, e não se chegava lugar algum. "Nas gravações do terceiro disco, eu era o empresário, mas sem nenhum poder. Passei de comandante a subordinado", afirmou Poladián na época.

A gravadora, apostando nesse trabalho que poderia repetir o sucesso dos anteriores, decidiu dar benefícios à banda, o que incluía por exemplo o aluguel de uma casa em Búzios, por um mês, para que fosse instalado um estúdio de gravação de oito canais, para que a banda pudesse gravar o novo álbum lá.

"Levamos um equipamento inacreditável para uma casa na beira da praia e lá ficamos durante um mês, gravando tudo que era tocado, o tempo todo. Tive até que solicitar à prefeitura um transformador de energia elétrica dedicado para nosso home studio", lembra Guilherme Canaes.

Para a casa de Búzios seguiram os quatros RPM, Aguiberto, o roadie Neves e o técnico de som Guilherme Canaes. Luiz Carlos Maluly ficou hospedado em hotel próximo da casa.

O melhor horário de produção dos músicos, era à noite e de madrugada. "Eles acordavam muito tarde, sempre depois das quatro da tarde e aí que começava o dia. Depois viravam a noite, compondo, tocando e escrevendo".

Um dos acordos entre a banda e a gravadora era de que não seria permitido nenhum tipo de consumo de drogas, em especial cocaína, durante o período em Búzios, mas isso não aconteceu.

“O consumo de drogas em Búzios foi pesado. Mas nunca percebi em nenhum momento que tenha atrapalhado o processo criativo da banda", atesta Maluly.

Durante as gravações em Búzios, Luiz Schiavon tentava ao máximo dormir cedo, acordar cedo e buscar uma sonoridade diferente para o disco que estavam gravando.